Introdução: A pericardite constritiva representa o estágio final de um processo inflamatório que envolve o pericárdio. As possíveis causas estão no quadro 1. Relato de caso: Homem, 38 anos, admitido em janeiro de 2020 em hospital de referência em cardiologia com quadro de flutter atrial com menos de 12 horas de evolução. Estava em acompanhamento com gastroenterologista há 2 anos devido elevação crônica isolada de gama glutamil transferase (GGT). Tinha biópsia hepática com resultado: bloqueio crônico do efluxo venoso e fibrose perisinusoidal. Trazia vários exames, dentre os quais uma angiotomografia de abdome superior de outubro de 2019 evidenciando pericardite constritiva e hepatopatia cardiogênica, e uma radiografia de tórax do ano de 2013 realizada devido quadro de infecção de vias aéreas (figura 1) que já mostrava calcificação pericárdica. Somente após outubro de 2019 procurou o cardiologista devido a pericardite. Tinha dispnéia aos médios esforços. Negava outras comorbidades. Apresentava-se em bom estado geral, levemente taquicárdico, eupneico, não tinha edema de membros inferiores ou hepatomegalia. Apresentava discreta turgência jugular. Ausculta pulmonar e ausculta cardíaca normais. Eletrocardiograma mostrava flutter atrial com frequência cardiaca de 110. Resultados: A angiotomografia cardiovascular evidenciou: calcificação extensa do pericárdio, associada a espessamento difuso de até 8mm; aumento biatrial; dilatação de ambas as veias cavas (cava superior 3,4 cm; cava interior 4,5 cm), compatíveis com pericardite constritiva (figura 2). Foi submetido a pericardiectomia com cardioversão do flutter intra-operatória e teve boa evolução. Houve resolução da turgência jugular. Laudo anatomopatológico: pericardite crônica inespecífica com fibrose e calcificação. Teve alta com melhora clínica para seguimento ambulatorial. Conclusão: o acometimento hepático secundário à pericardite constritiva incui um espectro de alterações clínicas, bioquímicas e histológicas. A identificação de pressão venosa jugular elevada, alterações na função hepática e ascite podem representar os critérios de hepatopatia congestiva secundária à pericardite constritiva.Porém, o tempo entre o início das alterações hepáticas e o diagnóstico da pericardite constritiva pode ser de anos. Quando diagnosticada mais precocemente, o prognóstico e melhor. O tratamento é a pericardiectomia. A liberação do coração restrito resolve a insuficiência cardíaca.