Introdução
A incidência de pericardite como complicação de uremia tem diminuído desde a introdução da Terapia Renal Substitutiva (TRS). Acredita-se estar relacionada aos níveis de uréia elevados. O diagnóstico é clínico, cursando geralmente com alterações eletrocardiográficas, e escassa alteração de marcadores de necrose miocárdica.
As alterações pulmonares, chamadas pulmão urêmico, caracterizam-se por edema peri-hilar bilateral e parecem estar relacionadas com o aumento da volemia ede substâncias osmoticamente ativas.
Relato de Caso
Homem, 65 anos, hipertenso, diabético, com nefrolitíase bilateral, procura atendimento devido taquidispneia, oligúria e estado confusional agudo. Ao exame físico, apresentava ausculta cardíaca com presença de B3 e atrito pericárdico. Ausculta pulmonar com crepitações finas bibasais até terço médio. A radiografia de tórax evidenciou derrame pleural e edema peri- hilar bilateral e eletrocardiograma (ECG) com supradesnivelamento de segmento ST difuso, compatível com processo inflamatório pericárdico (Figura 1).
A uréia e a creatinina séricas foram respectivamente 240,5mg/dL e 5,9mg/dL e os marcadores de necrose miocárdica dentro dos limites de normalidade.
O paciente evoluiu com insuficiência respiratória e necessidade de suporte ventilatório mecânico. Realizada tomografia computadorizada de abdome e pelve, apresentando cálculo impactado em ureter direito e presença de hidronefrose à direita. Optado por realizar passagem de cateter duplo J e iniciar TRS de urgência. Evoluiu com melhora das escórias nitrogenadas (uréia: 31mg/dL e creatinina 1,3mg/dL) e resolução do quadro respiratório, assim como normalização do ECG, sendo inferido o diagnóstico de pericardite urêmica e pulmão urêmico.
Discussão:
A pericardite urêmica ocorre em 96% dos casos em pacientes com doença renal crônica (DRC) avançada. No caso relatado, paciente apresentou elevação aguda de escórias nitrogenadas e alterações eletrocardiográficas, o que fez-se inferir o diagnóstico de pericardite urêmica, sem antecedente de DRC, com resolução precoce do quadro após TRS.
Conclusão:
Há poucos relatos na literatura sobre a associação entre as complicações de azotemia, assim como sobre a etiologia obstrutiva da IRA como causa para o desenvolvimento de pericardite urêmica. A prevalência de ambas as afecções concomitantemente é de 1%. No geral, o prognóstico da pericardite urêmica e pulmão urêmico é bom, com uma taxa de sobrevivência de 85-90%, se diagnosticada e abordada nas primeiras 48 horas, o que reforça a importância do diagnóstico e tratamento precoce destas afecções.