Introdução: O vírus influenza H1N1 e a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) foram fundamentais para o crescente uso da oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Descrevemos um caso de SDRA secundária a influenza H1N1 manejado com ECMO VV indicada precocemente.
Relato do caso: Paciente feminina, 68 anos, portadora de retocolite ulcerativa (uso crônico de corticoide), admitida no pronto socorro dia 12/06/19 por Herpes Zoster.
Em 18/06/19 evoluiu com dispnéia. Admitida na unidade de terapia intensiva com saturação de 96% (cateter de oxigênio 5L/min). Exames iniciais normais, exceto pelo resultado positivo de Influenza H1N1. Iniciada antibioticoterapia e oseltamivir. Ecocardiograma mostrou estenose aórtica moderada e tomografia de tórax com opacidades em vidro fosco difusas e focos de consolidação.
Hipoxemia progressiva e necessidade de ventilação não invasiva (VNI) intermitente e cateter nasal de alto fluxo. Em 21/06/19, evolui com relação PO2/FiO2de 106 (VNI a 100% de O2). Realizada intubação orotraqueal, sedação e bloqueio neuromuscular. Evoluiu com hipoxemia refratária, oligúria e uso de doses crescentes de vasopressores. Novo ecocardiograma com pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) de 59mmHg e função ventricular preservada. Frente a deterioração clínica, indicada ECMO VV. Canulação realizada 8 horas após a intubação orotraqueal. Evoluiu com rápido desmame de vasopressores. Anticoagulação plena e manejo da ECMO conforme diretrizes.
Evolui com melhora das disfunções orgânicas e hipoxemia. Em 28/06/19 foi realizada decanulação da ECMO com sucesso. Extubada dia 30/06/19 e suspensa antibioticoterapia dia 01/07/19.
Recebe alta hospitalar em 10/07/19 em ar ambiente, sem disfunções orgânicas, ecocardiograma de controle com PSAP 39mmHg e função ventricular preservada.
Discussão:Os tratamentos da SDRA associados a redução de mortalidade são a posição prona, uso de bloqueadores neuromusculares e ventilação protetora.
A utilização da ECMO veno-venosa (VV) para o tratamento da SDRA grave em adultos foi avaliada em dois estudos randomizados e controlados. O estudo CESAR (2009) demonstrou que o grupo tratado com ECMO apresentou melhora significativa de sobrevivência em comparação com o grupo tratado com ventilação mecânica protetora. O estudo EOLIA (2018), não demonstrou diferença na mortalidade entre a estratégia de ECMO versus ventilação mecânica protetora.
Conclusão: A ECMO VV, quando indicada precocemente, pode ser ferramenta fundamental para proporcionar desfechos favoráveis em pacientes que desenvolvem SDRA secundária a Influenza H1N1.