Introdução: As fístulas coronarianas representam um defeito cardíaco extremamente raro, cuja prevalência na população geral é de aproximadamente de 0,002%. Em geral, os pacientes apresentam-se assintomáticos; nos sintomáticos, as manifestações ocorrem por sobrecarga de volume ou por roubo de fluxo coronariano.
Relato de caso: Paciente feminina, 67 anos, é portadora de hipertensão arterial sistêmica, hipotireoidismo, fibrilação atrial permanente e relata diagnóstico de sopro cardíaco desde a infância. Encaminhada ao serviço terciário de Cardiologia devido a imagem sugestiva de fístula coronariana evidenciada em Ecocardiograma Transtorácico (ETT) de rotina. Encontra-se assintomática do ponto de vista cardiovascular. Ao exame físico, normotensa, ritmo cardíaco irregular, bulhas normofonéticas, com sopro sistodiastólico 3+/6+ em focos da base. Eletrocardiograma: ritmo de fibrilação atrial e frequência cardíaca de 60 batimentos por minuto, normal para idade e biotipo. Radiografia de tórax: cardiomegalia, sinais de hipertensão venosa pulmonar e alargamento de aorta torácica. ETT: dilatação da artéria coronária direita (1,2 cm), com fluxo doppler turbulento no seu interior e seio coronariano dilatado com fluxo doppler sistodiastólico turbulento e acelerado, moderado aumento dos diâmetros do ventrículo esquerdo (VE), com função contrátil preservada. Ecocardiograma Transesofágico: discreto aumento de câmaras direitas sem disfunção e pressão sistólica de ventrículo direito de 39 mmHg. Cintilografia miocárdica: sem sinais de isquemia. Angiotomografia Coronariana: artéria coronária direita ectasiada (óstio: 11 mm), tortuosidade difusa e comunicação do trecho distal da artéria ventricular posterior com o seio coronário. Após discussão com heart team, foi optado por tratamento conservador, pois a paciente apresentava-se assintomática, com baixo risco de complicações e sem repercussão hemodinâmica significativa secundária à fistula. Atualmente mantém-se assintomática em seguimento ambulatorial.
Conclusão: dada a baixa casuística na literatura, não se permite definir conduta padronizada. O tratamento invasivo percutâneo ou cirúrgico fica reservado a casos com sintomas de isquemia por roubo de fluxo coronariano e repercussão hemodinâmica associada. No caso relatado, em virtude da ausência de complicadores e boa evolução ambulatorial após 4 anos do diagnóstico, o tratamento conservador encontra-se bem indicado.