INTRODUÇÃO: A miocardite eosinofilica é uma afecção incomum que consiste em infiltrado eosinofílico miocárdico, necrose e perda estrutural, podendo ser desencadeada por doenças autoimunes, infecções, neoplasias ou como parte de uma síndrome hipereosinofílica (SH). Há variação entre quadros subclínicos assintomáticos até manifestações fulminantes. O diagnóstico inicial se dá com métodos não invasivos, e a confirmação se faz por biópsia endomiocárdica. O tratamento envolve suporte terapêutico e terapia específica imunossupressora, quando indicada. MÉTODO: Revisão de prontuário. RESULTADOS: Paciente 42 anos, feminina, sem antecedentes, deu entrada no Hospital Maternidade São José com dor precordial intensa, com 15 dias de evolução, associada à dispneia. Na propedêutica, eletrocardiograma normal, troponina alterada e ecocardiograma mostrando marcante edema miocárdico e disfunção sistólica bi-ventricular importante. Hemograma com leucocitose eosinofílica. Evoluiu com bloqueios avançados intermitentes, com crises convulsivas associadas e tomografia computadorizada de crânio normal, compatível com síndrome de Stoke Adams. Iniciado tratamento de suporte, com implante de marcapasso provisório e início de vasodilatadores. Tomografias de tórax e abdome normais. Realizada ressonância magnética do coração, que evidenciou realce tardio com padrão mesocárdico e multifocal, sugestivo de lesão miocárdica não aterosclerótica. Além disso, progrediu com hepatite, com leve icterícia e alteração de enzimas hepáticas. Feita hipótese de síndrome hipereosinofílica com acometimento hepático e cardíaco. Biópsia de medula óssea excluiu eosinofilia primária. Sorologias virais e anticorpos anti-cardiolipina e anti-dsDNA normais. Cateterismo evidenciou artérias coronárias sem ateromatose. Não foi realizada biópsia endomiocárdica, por dificuldades logísticas. Paciente evoluiu com melhora do quadro, com recuperação do ritmo e das funções hepática e ventricular e com diminuição do edema miocárdico. Dessa forma foi associado beta-bloqueador e não foi iniciada imunossupressão, pois paciente apresentou melhora clínica com as medidas descritas acima. CONCLUSÃO: Em virtude dos achados clínicos e exames complementares, foi proferido diagnóstico de miocardite e hepatite decorrente de SH. Paciente apresentou boa evolução com tratamento de suporte, beta-bloqueadores e vasodilatadores, não sendo necessário tratamento de imunossupressão. Não foi possível realizar a biópsia endomiocárdica por sérias dificuldades logísticas inerentes ao sistema público de saúde.