A Introdução: A Cardiomiopatia/ Displasia Arritmogênica do ventrículo direito (C/DAVD) é uma doença hereditária com penetrância variável que compromete os desmossomos cardíacos, caracterizada por arritmias ventriculares, disfunção ventricular e substituição fibro-gordurosa dos cardiomiócitos, acometendo indivíduos entre 30 e 50 anos. Sua forma de apresentação inicialmente silenciosa e prognóstico intimamente relacionada com atividade física demandam constante vigilância no seguimento principalmente dos atletas.
Relato do caso: Paciente YYV, 61 anos, hígida, atividade física regular desde 2006 tornando-se frequentadora de maratonas, negava sintomas cardiovasculares. Exames de rotinas 2013 detectaram taquicardia ventricular não sustentada (TVNS) polimórfica durante teste ergométrico (TE) e cintilografia miocárdica que mostrava hipocaptação persistente de pequena extensão no ventrículo esquerdo (VE), portanto referenciada para Ressonância Magnética Cardiaca (RMC) evidenciando função biventricular preservada, hipocinesia inferolateral médio-basal do VE, fibrose miocárdica de padrão não isquêmico, compatíveis com cardiomiopatia inflamatória. No seguimento, biópsia endocárdica de 11/2013 não foi conclusiva. Assim iniciou acompanhamento no serviço de arritmias em fevereiro de 2014, sendo identificado instabilidade elétrica discreta dos ventrículos em estudo eletrofisiológico, com respostas polimórficas e prescrito beta-bloqueadores. Em TE de controle 03/2015 apresentou novamente TVNS polimórfica no pico do esforço, com nova RMC sem preencher critérios para C/DAVD. Apresentou TV sustentada estável e foi cardiovertida, necessitando ablação de TV endocárdica em duas ocasiões sem sucesso, e implantado CDI ao final do primeiro procedimento. RMC 04/2019 evidenciava alterações de C/DAVD avançada. Manteve episódios recorrentes de TV, e somente com mapeamento epicárdico foi possível seu tratamento eficaz.
Discussão: Arritmias ventriculares podem estar presentes desde corações normais até definitivamente danificados por alguma doença de base, além de poderem aparecer antes das alterações macroestrturais. Sendo assim, importante ressaltar o papel da atividade física para o início e progressão da doença na C/DAVD, através do estresse mecânico e sua modulação beta-adrenérgica, além de suas formas atípicas de apresentação como no caso exposto, sendo o VE raramente acometido, porém este vindo a traduzir evolução desfavorável.