INTRODUÇÃO: A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) está relacionada ao risco cardiovascular (CV), porém pouco se sabe sobre diagnóstico e rastreio de AOS para populações mais jovens. O objetivo desse estudo é avaliar o risco para AOS, o melhor método de rastreio e suas associações com fatores de risco CV em uma população jovem assistida na Estratégia Saúde da Família no Rio de Janeiro.
MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo populacional transversal que incluiu adultos entre 20 e 50 anos registrados na unidade da Estratégia Saúde da Família. Foram obtidas as características sociodemográficas, antropométricas e os fatores de risco CV. Foi aferida a pressão arterial de consultório (PAC) e todos foram submetidos à MRPA e à avaliação de perfil glicídico e lipídico. O risco de AOS foi avaliado pelos questionários STOP-BANG (SB) e a Escala de Sonolência de Epworth (ESE). Pacientes com alto risco em pelo menos um dos questionários foram submetidos à polissonografia de noite inteira. Análise bivariada comparou indivíduos com alto e baixo risco em cada questionário. Regressão linear avaliou as variáveis que se associaram independentemente ao alto risco para AOS em ambos os questionários.
RESULTADOS: 562 indivíduos foram analisados [40% homens; idade média de 38,9 ± 8,8 anos], dos quais 151 (26,9%) tiveram alto risco para AOS pelo SB e 210 (37,4%) pelo ESE. Indivíduos com alto risco pelo SB são mais velhos, com maior prevalência de obesidade, hipertensão e valores mais altos de PAC e MRPA. Por outro lado, indivíduos com alto risco pelo ESE são mais obesos com circunferência abdominal aumentada, maior prevalência de dislipidemia e síndrome metabólica. No entanto, não houve diferença quanto à PA nesse grupo. As variáveis independentes que se relacionaram ao alto risco para AOS pelos 2 questionários foram sexo masculino e obesidade, pelo SB foram sexo masculino, obesidade, aumento da circunferência cervical e hipertensão arterial e pelo ESE somente obesidade e dislipidemia. Dentre os indivíduos submetidos à polissonografia, 46% tiveram diagnóstico de AOS (IAH ≥ 5/hour) e 23% de AOS moderada a grave (IAH > 15/hour). O melhor preditor de AOS foi o SB, positivo em 100% dos indivíduos com AOS moderada a grave, enquanto a ESE, foi positiva em apenas 20%.
CONCLUSÃO: A população estudada apresentou alta prevalência e risco para AOS. O rastreio positivo pelo ESE está associado a um perfil metabólico adverso e o SB a níveis pressóricos elevados e este parece ser um melhor preditor para AOS moderada a grave nessa população.