Introdução: O 5-Fluorouracil (5-FU) é o segundo medicamento mais comum associado à cardiotoxicidade após as antraciclinas e muito utilizado nas neoplasias sólidas. A manifestação mais comum de cardiotoxicidade associada às fluoropirimidinas é dor no peito, com dor torácica atípica, angina ao esforço ou repouso e síndromes coronárias agudas, incluindo infarto do miocárdio. Ainda não se sabe ao certo quais os grupos de risco para os eventos relacionados a esse antineoplásico e, portanto, sua liberação em pacientes cardiopatas permanece incerta.
Apresentação do Caso: A.F.L.J, masculino, 74 anos, miocardiopatia dilatada isquêmica com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) de 30% ao ecodopplercardiograma transtorácico, ressincronizador e em classe funcional II já com tratamento otimizado da insuficiência cardíaca. Recebeu diagnóstico de adenocarcinoma de esôfago em estágio inicial. Realizada proposta de quimioterapia com 5-FU e oxaliplatina. Encaminhado ao cardiologista para avaliação e liberação do antineoplásico. Cateterismo diagnóstico demonstrava oclusão da coronária direita e lesão de 70% em terço médio da coconária descendente anterior. Ressonância magnética de coração demonstrou FEVE de 10%, perda da viabilidade miocárdica em toda a parede inferior, ínfero-septal, lateral e ínfero-lateral e porção médio-apical da parede ântero - lateral do ventrículo esquerdo. Realizada reunião em conjunto com oncologia para decisão terapêutica. Como havia proposta curativa e cardiopatia compensada, optado por liberar quimioterapia, sendo realizada internado, com controle hídrico, monitorização cardíaca e realização de biomarcadores. Não houve eventos durante a infusão da quimioterapia e a neoplasia foi controlada com êxito.
Discussão: Uma ciência em construção, a cardio-oncologia, vai além de estatísticas e se baseia no tratamento individualizado aliado às evidências atuais. O paciente relatado possuía uma cardiopatia grave, porém controlada e otimizada. O conhecimento acerca do antineoplásico a ser administrado, seus efeitos adversos, a melhor forma de administração e a monitorização cardiológica do paciente permitiu que o mesmo pudesse realizar o tratamento antineoplásico de forma plena com o objetivo de alcançar a cura.