INTRODUÇÃO: O manejo clínico medicamentoso ambulatorial de pacientes com insuficiência cardíaca (IC) é fundamental para redução de mortalidade relacionada a esta doença. Na IC descompensada, é recomendada a manutenção das drogas redutoras de mortalidade sempre que possível, porém observa-se frequentemente a suspensão inadvertida das mesmas. O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da suspensão das medicações redutoras de mortalidade na IC durante internação por descompensação.
MÉTODOS: Estudo prospectivo observacional unicêntrico realizado entre 14/12/2016 e 01/02/2020, com inclusão de pacientes internados por IC descompensada. Foram excluídos os pacientes sem diagnóstico prévio de IC e sem uso das medicações recomendadas para aumento da sobrevida. Os pacientes foram comparados quanto à suspensão ou não das drogas redutoras de mortalidade na IC (betabloqueadores, IECA ou BRA ou sacubitril/valsartana, espironolactona) durante a hospitalização. Foram analisados como desfechos a ocorrência de óbito intra-hospitalar, insuficiência renal aguda (IRA), necessidade de ventilação mecânica (VM) durante a internação e tempo de internação.
ANÁLISE ESTATÍSTICA: A análise estatística utilizou os testes de Wilcoxon, Mann-Whitney e t de student não-pareado. RESULTADOS: Foram incluídos 99 pacientes, 47,5% do sexo masculino, média de idade 65,4 ±14 anos, fração de ejeção média 38,3 ±15%. Do total, 62 pacientes (62,6%) constituíram o grupo em que as medicações de uso crônico foram mantidas vs 37 pacientes (37,4%) o grupo em que os fármacos foram suspensos. O perfil C ou L foi observado em 11,3% no grupo manutenção vs 32,4% no grupo suspensão (p=0,008). Em relação aos desfechos, a comparação entre os grupos suspensão vs manutenção dos medicamentos demonstrou mortalidade de 9,7% vs 27% (p=0,02), IRA 35,5% vs 29,7% (p=0,55), tempo médio de internação 16,8 dias vs 20,6 dias (p=0,15) e necessidade de VM 14,5% vs 35,1% (p=0,01).
CONCLUSÃO: A descontinuação do tratamento medicamentoso da IC durante a descompensação se associou a aumento de mortalidade intra-hospitalar, aumento da incidência de IRA e da necessidade de VM. Observou-se maior proporção de descompensações em perfil C ou L no grupo suspensão, mas com maioria de perfil B em ambos os grupos. Devem ser mantidos os medicamentos redutores de mortalidade utilizados em caráter ambulatorial durante o quadro de descompensação da IC, sob o risco de aumento da morbimortalidade, e a necessidade de suspensão por motivos clínicos deve ser encarada como marcador de mau prognóstico.