INTRODUÇÃO: O emprego da via de acesso radial na cardiologia intervencionista vem crescendo nos últimos anos por proporcionar menor índice de complicações vasculares. A punção da artéria radial ao nível da tabaqueira anatômica consiste numa técnica recentemente descrita, com potenciais benefícios adicionais. Este estudo teve como objetivo analisar as complicações relacionadas à via de acesso utilizada em procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos.
MÉTODOS: Estudo prospectivo observacional unicêntrico realizado entre 05/12/2018 e 07/01/2020, com coleta de dados acerca da via de acesso arterial utilizada em procedimentos de cineangiocoronariografia e intervenção coronária percutânea (ICP). As vias de acesso femoral, radial no processo estiloide e radial na tabaqueira anatômica foram comparadas quanto a complicações do sítio de punção e transição da via de acesso (crossover).
ANÁLISE ESTATÍSTICA: Foram utilizados os testes do qui-quadrado, de Fisher, ANOVA e t de student.
RESULTADOS: Dos 748 procedimentos realizados, 388 (51,9%) foram por via radial no processo estiloide (RPE), 208 (27,8%) por via femoral (FEM) e 152 (20,1%) por via radial na tabaqueira anatômica (RTA). Foram realizadas 541 (72,3%) cineangiocoronariografias, 128 (17,1%) ICPs e 79 (10,5%) procedimentos combinados de cineangiocoronariografia + ICP. A proporção de pacientes do sexo masculino foi de 56,7% no grupo RPE, 47,6% no grupo FEM e 70,4% no grupo RTA (p=0,01). A média de idade foi de 64,3 ± 11 no grupo RPE, 67,6 ± 13 no grupo FEM e 63,0 ± 10 no grupo RTA (p=0,12). A taxa de crossover foi de 6,2% no grupo RPE, 1,0% no grupo FEM e 9,9% no grupo RTA (p=0,001), e a incidência de complicações foi de 0,5% no grupo RPE, 2,9% no grupo FEM e 0% no grupo RTA (p=0,008). As complicações observadas foram: 2 hematomas locais no grupo RPE; 4 hematomas locais, 1 pseudoaneurisma e 1 sangramento ativo no grupo FEM.
CONCLUSÃO: O acesso transradial com punção na tabaqueira anatômica foi realizada em homens numa maior proporção do que as demais vias de acesso, e não houve diferença de idade quanto às vias RPE, FEM e RTA. Apesar da maior taxa de crossover, o grupo RTA apresentou menor incidência de complicações do sítio de punção quando comparado aos grupos FEM e RPE. Esta via de acesso, quando factível, parece ser atraente quanto à segurança, com rara ocorrência de complicações locais.