Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma doença de grande prevalência que vem aumentando sua incidência ao longo dos anos, com grande impacto na saúde da população. Com a tentativa de melhorar a qualidade de vida e sobrevida dos pacientes, alguns estudos têm se concentrado no conhecimento da fisiopatologia da doença e de fatores de impacto prognóstico, sendo o estado nutricional, especificamente a desnutrição, um dos alvos.
Objetivos: Avaliar a prevalência, fatores de risco e impacto da desnutrição em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER).
Métodos: Estudo transversal e prospectivo realizado com pacientes ambulatoriais portadores de ICFER através de questionários aplicados ao paciente para análise de dados epidemiológicos, medicamentos em uso e porcentagem da dose alvo tolerada das medicações preconizadas para IC. Além disso, os pacientes eram avaliados por nutricionista através da aplicação do mini nutrition assessment (MNA) e da avaliação subjetiva global. Segundo esses, o paciente era classificado em sobrepeso, obeso, bem nutrido, moderadamente desnutridos e severamente desnutridos e, posteriormente, reclassificado em desnutrido (aqueles com algum grau de desnutrição, incluindo os obesos sarcopênicos) e não desnutrido, para análise de prevalência da desnutrição e fatores de risco associados. Por fim, foi realizado seguimento por 6 meses através de análise de prontuário e contato telefônico.
Resultados: Foram incluídos 118 pacientes, no período de janeiro a setembro de 2019, sendo a maioria homens (67,8%), com uma idade média de 61±11 anos. A prevalência de desnutrição nessa população foi de 21,2%, a maioria em idosos, com classe funcional mais avançada e menos tolerantes aos betabloqueadores (em média, 79% da dose alvo nos individuos sem desnutrição x 57,9% nos desnutridos, p=0,002). A taxa de mortalidade teve uma tendência maior entre os desnutridos (14% dos desnutridos x 4% dos não desnutridos, p=0,082), mas sem diferença no número de internamentos ou procura ao atendimento de emergência entre os grupos.
Conclusão: A prevalência de desnutrição entre os pacientes com IC é alta e está associada a menor tolerabilidade à betabloqueadores e a tendência de aumento de mortalidade. Sendo assim, reconhecer a existência da correlação entre a menor tolerância ao betabloqueador e a desnutrição se torna essencial para adequado manejo nutricional e melhores desfechos no tratamento da IC.