Introdução: A hipotermia terapêutica endovascular (HTE) reduz os danos causados pela síndrome da lesão pós-isquemia-reperfusão (SPR) na parada cardiorrespiratória (PCR) e já estabeleceu seu papel em pacientes com morte súbita, porém seu papel no infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMSST) permanece controverso. Objetivos: Os objetivos deste estudo foram investigar a segurança, viabilidade e eficácia em 30 dias da indução rápida de hipotermia terapêutica como terapia adjuvante à intervenção coronária percutânea (ICP) em pacientes com IAMSST anterior e inferior. Métodos: Estudo prospectivo, controlado, randomizado e intervencionista de pacientes com início da angina ou IAMSST anterior ou inferior elegível para ICP, até 6 horas. Os indivíduos foram randomizados para o grupo de hipotermia (ICP primária + HTE) ou para o grupo controle (ICP primária). A HTE foi induzida com 1L de solução salina fria (1-4 °C) associada a hipotermia endovascular, em até 18 minutos antes da reperfusão coronariana, com uma temperatura alvo de 32±1 °C. A manutenção da HTE foi realizada por 1-3 horas e reaquecimento ativo de 1ºC/h, por 4 horas. Resultados: Foram incluídos 50 pacientes, 35 (70%) randomizados para o grupo hipotermia e 15 (30%) para o grupo controle. A idade média foi de 58 ± 12 anos, 78% homens. A parede miocárdica comprometida era anterior em 38% e inferior em 62%.Todos os 35 pacientes no grupo ICP+HTE tiveram resfriamento bem-sucedido, com temperatura média de reperfusão coronariana endovascular de 33,1 °C ± 0,9 °C. O tempo isquêmico médio foi de 375min ± 89,4min no grupo hipotermia e 359,5min ± 99,4min no grupo controle. O tempo porta-balão médio foi de 92,1 minutos ± 20,5 minutos no grupo hipotermia e 87 minutos ± 24,4 minutos no grupo controle. As taxas de eventos cardiovasculares foram semelhantes entre os dois grupos (21,7% vs 20%, respectivamente, p=0,237). Na comparação entre os grupos hipotermia e controle, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em 30 dias entre o tamanho médio do infarto (13,9% ± 8% vs 13,8% ± 10,8%, respectivamente, p = 0,801) ou FEVE final média (43,3% ± 11,2% vs 48,3 ± 10,9%, respectivamente; p = 0,194). Conclusões: A hipotermia como terapia adjuvante à ICP primária no IAMSST é viável e pode ser implementada sem demora na reperfusão coronariana. A hipotermia foi segura, sem aumento da mortalidade. Em relação à eficácia, não houve diferença no tamanho do infarto ou na FEVE aos 30 dias que sugerisse proteção miocárdica adicional com HTE.