Introdução:
A curva de deformação do átrio esquerdo durante a fase de reservatório é uma resultante do relaxamento da parede atrial, bem como da excursão longitudinal do anel átrio-ventricular e da pressão de pulso do ventrículo direito. Valores abaixo de 25% apontam estados de anormalidade cardíaca (por exemplo, algum grau de disfunção diastólica), enquanto valores <20% são indicativos de aumento das pressões de enchimento em câmaras esquerdas. Atualmente, há dúvidas da literatura se a medida da fase de reservatório teria valor diagnóstico adicional ao aportado pelo volume do átrio esquerdo e Global Longitudinal Strain do ventrículo esquerdo.
Objetivo:
1. Estudar a correlação da reservatório do átrio esquerdo (Strain AE) com o volume átrio esquerdo indexado para superfície corpórea (VolAE index) e com o Global Longitudinal Strain do ventrículo esquerdo (GLS).
2. Identificar os padrões de desvios de correlação através de agrupamentos (clusters) não supervisionados K-means
Método:
Realizado estudo prospectivo com 100 pacientes em laboratório de ecocardiografia. Foram incluídos pacientes >17anos, ritmo sinusial e boa janela ecocardiográfico.
Realizada análise offline com cálculo das medidas ecocardiográficas padrão, bem como o GLS e Strain do AE. Após a determinação do coeficiente de correlação entre as variáveis de interesse, aplicou-se modelo de Machine Learning não-supervisionado K-means (o qual agrupa os dados equalizando suas variâncias), e aplicado teste de hipótese entre as medianas (Wilcoxon rank-sum) para comparar os grupos.
Resultados:
Há evidência de fraca correlação entre o Strain AE e VolAE index (Rho de Spearman= -0.15; p<0.05) e moderada correlação entre o Strain AE e o GLS (Rho de Spearman= -0.51; p<0.05).
O número ótimo de clusters pelo K-means foi de 4 com diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p<0.05).
O Strain AE alterado (<25%) com VolAE index normal (<35mL/m2) foi evidenciado em 17% dos sujeitos, enquanto o Strain AE alterado(<25%) com GLS preservado(<-17%) foi evidenciado em 16% dos sujeitos.
Conclusão:
A fase de reservatório do átrio esquerdo aporta informação diagnóstica adicional em relação à fornecida pelos volume do átrio esquerdo e pelo Global Longitudinal Strain do ventrículo esquerdo. Tais achados tem impacto na decisão de se utilizar a medida da fase de reservatório para avaliação de pacientes com disfunção diastólica.