Introdução
Os avanços em cirurgia cardíaca, cardiologia intervencionista e tratamento clínico tem contribuído para o aumento da expectativa de vida em pacientes com cardiopatias congênitas. Como esses pacientes vivem mais, o perfil das doenças cardíacas congênitas do adulto está mudando e a insuficiência cardíaca está revelando-se o principal problema a ser enfrentado.
Caso clínico
Paciente de 32 anos com Tetralogia de Fallot corrigida aos 11 anos foi admitido no pronto-socorro com insuficiência cardíaca aguda (baixo débito e congestão). Após alguns anos sem seguimento, ele havia retornado para o acompanhamento ambulatorial, já com insuficiência cardíaca avançada, tendo sido iniciado tratamento clínico; contudo a doença manteve progressão até culminar na presente internação. O ecocardiograma apresentava disfunção biventricular (FE 28% em ambos os ventrículos), insuficiência tricúspide importante e hipertensão pulmonar.
Foi iniciada dobutamina com dose de até 20mcg/kg/min, sendo o paciente avaliado como dependente de inotrópicos, tendo apresentado 3 falhas de desmame. Foi considerado dispositivo de assistência ventricular (não disponível no serviço), e transplante cardíaco (porém o paciente apresentava limitações sociais). Foi então sugerido sacubitril-valsartana, que foi bem tolerado e permitiu o desmame de dobutamina. Não houve hipotensão ou alteração de função renal e o paciente recebeu alta para seguimento ambulatorial.
Discussão
Recentemente, o sacubitril-valsartana iniciou uma nova jornada no tratamento da insuficiência cardíaca. Os trials iniciais não incluíram pacientes com cardiopatias congênitas e apenas poucos trabalhos menores (observacionais) o fizeram.
Em uma pesquisa no pubmed, foram encontrados apenas três artigos analisando o uso de sacubitril-valsartana em adultos com cardiopatias congênitas e os dados, ainda que limitados, sugerem bons resultados, principalmente para os pacientes sintomáticos.
Um dos artigos, que embasa nossa proposta de uso do sacubitril-valsartana para uma subpopulação de pacientes com cardiopatias congênitas, expõe mecanismos fisiológicos envolvidos no sistema da neprilisina, que em linhas finais pode auxiliar na função do ventrículo direito e da circulação pulmonar.
O uso de sacubitril-valsartan ainda não foi avaliado adequadamente em adultos com cardiopatia congênita, porém no presente caso foi bem tolerado se mostrou uma boa opção a ser considerada para esses pacientes. São necessários mais estudos neste campo e os dados iniciais sugerem haver um novo paradigma a ser avaliado para este grupo de pacientes.