Introdução: O envolvimento cardíaco com consequente disfunção miocárdica na esclerose sistêmica (ES) está associado a uma maior morbimortalidade. O strain global longitudinal derivado do speckle-tracking (GLS) é uma técnica sensitiva na detecção do envolvimento cardíaco precoce, mas seu papel como marcador de mortalidade na ES é desconhecido.
Objetivo: Nós avaliamos o valor prognóstico do GLS em pacientes com ES e fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) preservada.
Métodos: Sessenta e seis pacientes consecutivos com ES e FEVE >50% foram recrutados prospectivamente. GLS foi realizado off-line através de um software de análise independente (TomTec). Sintomas de insuficiência cardíaca foram classificados de acordo com a classe funcional (CF) New York Heart Association (NYHA). Os pacientes foram seguidos por no mínimo 5 anos, e o desfecho primário foi definido como mortalidade por todas as causas.
Resultados: Dentre os 66 pacientes inscritos entre 2011 e 2013, 55 pacientes (idade 62±12 anos; 91% mulheres) tiveram a imagem adequada para análise. A forma ES cutânea difusa foi observada em 27% dos pacientes, ES limitada em 60%, e ES sem envolvimento cutâneo em 13%. Do total, três pacientes (5%) apresentaram a forma precoce, e 52 (95%) a tardia. Durante o seguimento de 7,1 anos (mediana [IQR], 12,7 [8,0-2,2]), houve 12 (22%) óbitos. A FEVE média foi 64±3.9%, sem diferença entre os pacientes que foram ao óbito (média [SD], 62,5% [4,9] óbito vs. 64,7% [3,5] sobreviventes; P=.10). Pacientes com CF NYHA I tiveram um óbito (8%), CF NYHA II cinco (42%), CF NYHA III três (25%) e CF NYHA IV três (25%); PP<.05). Na análise multivariada, GLS (hazard ratio [HR] [95% CI], 1,66 [1,13-2,73]; P=.01), idade da apresentação da doença (HR [95% CI], 1,14 [1,05-1,26]; P<.001), e CF NYHA (HR [95% CI], 1,97 [1,05-6,26]; P= .002) foram os principais preditores de mortalidade. A análise pela curva ROC resultou em um bom poder discriminatório para o GLS de -17% (AUC 72; S=63, E=63; P<.001). O valor médio de GLS entre os pacientes que foram ao óbito em comparação aos que sobreviveram (média [SD], -15,9% [2,9] vs -18,1% [2,0]; P<.001) é ilustrado na Figura.
Conclusão: GLS é um poderoso preditor de mortalidade global a longo prazo em pacientes com ES e FEVE preservada.
Figura - A associação entre GLS e mortalidade.