INTRODUÇÃO: A dissecção aguda de Aorta Torácica (DAAT) designa-se por uma ruptura circunferencial ou transversa da íntima do vaso, levando à criação de uma outra luz (falsa) da Aorta, provocada pelo hematoma intramural. Associa-se à uma alta mortalidade dentro das primeiras 72 horas. A dissecção aórtica também pode ser iatrogênica, tendo como causa principal procedimentos endovasculares ou percutâneos, onde a melhor conduta ainda é controversa e alguns autores propõem uma abordagem terapêutica mais cautelosa. RELATO DO CASO: Mulher, 53 anos, hipertensa, com claudicação progressiva e limitante de membros inferiores nos últimos 2 meses e de dor precordial inédita, de forte intensidade, com irradiação para membros superiores há 6 horas. Foi admitida no hospital com Síndrome Coronariana Aguda (SCA) com supra de ST de parede inferior, encaminhada para cinecoronariografia de urgência onde notou-se oclusão médio-distal dos ramos Descendente Posterior e Ventricular Posterior (ramos da artéria Coronária Direita - ACD) por trombos intra-coronários. Durante tentativa de angioplastia de lesões, houve dissecção da ACD, com extensão retrógrada para Aorta Torácica Ascendente. Abortado tentativa de Angioplastia Primária (paciente sem dor e estável) e optado pela suspensão de heparina e anti-agregantes plaquetários. Feito Angiotomografia (AngioTC) de Aorta que evidenciou hematoma em parede de Aorta até o nível do Arco Aórtico. Repetido nova angioTC 3 dias após e visto regressão do hematoma. Discutido caso com cirurgia cardíaca e optado por tratamento conservador. Optou-se por anticoagulação da paciente, que recebeu alta em classe funcional I, com boa função ventricular e mantém-se pouco sintomática 6 meses após o evento. CONCLUSÃO: A DAAT requer um diagnóstico rápido e preciso, já que sua alta morbimortalidade se dá, em geral, pelo acometimento de ramos arteriais vitais. Estes podem ficar comprometidos por se originarem da falsa luz da Aorta ou por terem o seu óstio comprimido por esta, além do risco de hemopericárdio, hemotórax ou outros quadros letais. Apesar da dissecção iatrogênica da Aorta também ser potencialmente fatal, o seu manejo terapêutico ainda não é bem estabelecido. Este caso demonstra o sucesso do manejo conservador, com acompanhamento clínico e laboratorial após uma DAAT iatrogênica secundária a uma tentativa de angioplastia coronária durante uma SCA. A discussão de casos semelhantes e o acúmulo de experiência no manejo desta entidade clínica deve ser estimulado para que possamos definir as melhores medidas diagnósticas e terapêuticas a serem adotadas.