Introdução: O apêndice atrial esquerdo (AAE) é uma extensão muscular do átrio esquerdo, emergindo próximo às veias pulmonares esquerdas. É o local com maior incidência de formação de trombos em individuos portadores de fibrilação atrial (FA). Existem poucos relatos na literatura de agenesia do AAE, sendo provavelmente uma variação anatômica rara.
Descrição do caso: Paciente de 59 anos, sexo masculino, encaminhado com clínica de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Queixa de tosse/dispnéia progressiva, sintomático aos esforços habituais (CF III NYHA) na internação. Exame físico: anasarca, ritmo cardíaco irregular, FC 129 bpm, PA 102x64 mmHg. ECG: FA persistente com alta resposta ventricular. Ecodopplercardiograma transtorácico: função ventricular esquerda normal (FE= 52%), VE= 49/36 mm e AE= 57mm. História pregressa: hipertensão arterial sistêmica, pneumonite por hipersensibilidade a poeira não orgânica, tromboembolismo pulmonar e FA persistente há meses sem tentativa prévia de cardioversão por dúvidas relativas aos achados do AAE. Ecodopplercardiograma transesofágico (visando a cardioversão elétrica): sem trombos intravitários e não visualização do AAE (agenesia?). Ressonância nuclear magnética (RNM) cardíaca: confirmou a hipótese de agenesia do AAE. Realizada a cardioversão elétrica externa (200J) com sucesso (reversão para ritmo sinusal). Paciente evoluiu com melhora significativa da clínica de ICC e teve alta hospitalar.
Conclusões: 1- a agenesia do AAE, embora de ocorrência rara, pode ser fator confusional na decisão terapêutica. 2- a RNM foi decisiva no diagnóstico diferencial entre agenesia e não visualização apenas, e consequentemente na terapia.
