Introdução: Estudos pré-clínicos mostram que o extrato hidroalcóolico do caroço do açaí (ASE), planta típica do Brasil e rica em polifenóis, tem efeitos benéficos cardiovasculares, como prevenção de disfunção endotelial, melhoria do perfil metabólico e efeitos antioxidantes. Porém, seu papel na modulação da função plaquetária ainda é desconhecido. As plaquetas são essenciais para a hemostasia vascular, mas, quando hiperativadas, participam da formação de trombos e para a patogênese de doenças isquêmicas. O objetivo do estudo foi estudar os efeitos do ASE sobre a agregação plaquetária e atividade de enzimas antioxidantes, uma vez que espécies reativas de oxigênio podem reduzir a biodisponibilidade de óxido nítrico e inibir seu efeito antiagregante. Métodos: O sangue de 15 homens saudáveis foi coletado, centrifugado e as plaquetas isoladas incubadas com 50 ou 100 µg/mL de ASE. A agregação foi medida em plasma rico em plaquetas (PRP) induzida por ADP e trombina e em sangue total, por colágeno. Foi medido o efeito do ASE sobre a atividade das enzimas antioxidantes superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx). Os dados estão apresentados como média ± EPM, e as diferenças entre grupos foram testadas por uma ANOVA com pós -teste de Holm Sidak ou teste t pareado, sendo considerada a significância estatística um P ≤ 0,05. Resultados: O ASE inibiu a agregação em PRP induzida por ADP (basal, 46,1 ± 7,5; ASE50, 32,1 ± 4,1; ASE100, 17,6 ± 2,6%; P < 0,0001) e trombina (basal, 103,4 ± 4,5; ASE50, 77,2 ± 8,9; ASE100, 53,4 ± 7,1%; P = 0,0002), bem como em sangue total sob estímulo com colágeno (basal, 28,0 ± 4,0; ASE50, 19,6 ± 4,4; ASE100, 14,8 ± 2,5 Ω; P = 0,008). A atividade das enzimas antioxidantes SOD (basal, 0,042 ± 0,004; ASE100, 0,033 ± 0,003 U/mg ptn, P = 0,009) e CAT (basal, 0,08 ± 0,03; ASE100, 0,05 ± 0,02 U/mg ptn, P = 0,049), mas não da GPx (basal, 1,5 ± 0,6; ASE100, 1,4 ± 0,6 U/mg ptn; P = 0,312), mostrou-se diminuída após a incubação com ASE em comparação ao basal. Conclusão: Esses resultados indicam que o ASE possui um potente efeito inibitório na agregação plaquetária dose-dependente, com uma não esperada redução na atividade de enzimas antioxidantes. Dessa forma, tal composto apresenta potencial para ser utilizado na profilaxia e no tratamento de doenças associadas à hiperagregabilidade plaquetária, apesar dos mecanismos subjacentes a esse processo precisarem ser esclarecidos.