INTRODUÇÃO: Endocardite de prótese valvar (EPV) precoce apresenta etiologia, complicações e letalidade diferente das infecções de prótese tardias. Sua incidência no primeiro ano do implante valvar é de cerca de 1 a 3% e poucos estudos avaliaram fatores prognósticos destas infecções. O objetivo desse estudo é avaliar fatores relacionados ao óbito hospitalar a partir de dados obtidos da maior coorte brasileira em EPV.
MÉTODOS: Foram incluídos prospectivamente episódios de endocardite de prótese valvar que ocorreram em até um ano após o implante valvar no período de 1996 a 2019 em um hospital de referência de cardiologia de São Paulo. Dados clínicos, laboratoriais e de imagem foram coletados ao diagnóstico de endocardite. Realizou-se análise univariada e multivariada por regressão logística entre as variáveis estudadas e o desfecho óbito hospitalar, para definir os maiores preditores de óbito.
RESULTADOS: Foram incluídos 202 episódios de endocardite de valva protética - a maior coorte brasileira em EPV. A mediana de idade foi 55 anos e 60% eram homens. Os microrganismos mais frequentemente identificados foram: Staphylococcus coagulase negativo (80 casos, 39,6%), Staphylococcus aureus (S. aureus)(26 casos, 12,8%) e bacilos Gram negativos (18 casos, 8,9%). No geral, a letalidade foi de 40% e 70% dos casos foram submetidos a tratamento cirúrgico. A mediana de tempo para cirurgia desde o diagnóstico foi de 7 dias (7,5 dias nas infecções por S aureus). Dentre os episódios de endocardite por S. aureus a letalidade foi de 77% (93,5% no grupo sem cirurgia cardíaca e 53% no grupo submetido tratamento cirúrgico) - somente 1 paciente recebeu alta hospitalar sem necessitar de cirurgia cardíaca. Na análise multivariada, as variáveis associadas a óbito hospitalar foram: idade ≥ 60 anos (OR= 2,14; IC=95% 1,01 – 4,55; p=0,049), EPV aórtica (OR=2,67 IC=95% 1,23 - 5,80; p=0,013), etiologia por S. aureus (OR=7,23; IC=95% 2,17 – 24,1; p=0,01), leucócitos ≥ 12.000/mm3 (OR=2,4; IC=95% 1,14 – 5,10; p=0,022) e plaquetas ≤ 120.000/mm3 (OR=3,03; IC 95% 1,35 – 6,75; p=0,007).
CONCLUSÃO: 1) A mortalidade por EPV precoce persiste elevada, ainda maior se por S. aureus. 2) Idade superior a 60 anos, leucocitose, plaquetopenia, envolvimento de prótese aórtica e infecção por S. aureus são fatores de pior prognóstico hospitalar 3). Esse grupo pode ser beneficiar de terapêutica combinada (clínica e cirúrgica) mais precoce.