Introdução: A imagem apurada da ressonância magnética cardíaca (RMC) é ferrramenta diagnóstica e terapêutica essencial para pacientes com cardiomiopatia e cardiodesfibrilador implantável (CDI). Nestes, o uso indiscriminado da RMC, atualmente, é limitado aos dispositivos condicionais e, tem sido muito questionado pelas dificuldades de interpretação dos achados. O objetivo desse estudo foi avaliar a qualidade e a capacidade diagnóstica da RMC em portadores de CDI condicional.
Método: avaliamos 22 pacientes que realizaram 2 exames de RMC, antes-(RMC1) e após implante de CDI (RMC2). Esta seguiu protocolo de segurança e de múltiplas sequências de pulsos, incluindo técnicas da rotina clínica de avaliação de função ventricular, anatomia e análise tecidual. A qualidade da imagem de RMC foi avaliada por 3 radiologistas e a classificada por escore, de 1(pior) a 5 (melhor), considerando a capacidade diagnóstica e a presença de artefatos. As imagens de ventrículo esquerdo (VE), adquiridas em múltiplos cortes, foram analisadas conforme segmentação da American Heart Association, totalizando 1.837 segmentos.
Resultado: a RMC1 obteve escores elevados (m = 4,7±0,5 para Cine SSFP e 4,8±0,6 para realce tardio - RT) com 100% de diagnóstico. Todos os exames de RMC2 foram afetados por artefatos de suscetibilidade, principalmente nas paredes anterior e lateral do VE. O escore segmentar médio e as respectivas taxas de capacidade diagnóstica foram: 3,1 (82,3%) para o Cine SSFP; 1,74 (27,8%) para o RT e 2,1 (30,4%) para perfusão miocárdica (PM). Também analisamos 88 imagens em corte único cujas taxas de capacidade diagnóstica foram de 0% para o mapa T1; 77,3% para FSE triple anatômico e double IR; 68,2% para mapa de fluxo e 9,0% para FSE triple edema. Analisando separadamente imagens diagnósticas, o escore segmentar médio e a proporção de imagens diagnósticas foi: 3,4±0,6 (307/373) para Cine SSFP; 4,0±0,8 (96/364) para RT; 4,2±0,8 (107/352) para PM. Os testes funcionais do CDI realizados antes e após a RMC2 e, no seguimento de 3 meses não demonstraram alterações significativas. Encontramos correlações entre altura do paciente, vetores cardíacos e diâmetros ventriculares com a qualidade da imagem.
Conclusão: Em pacientes com CDI condicional, a qualidade e a capacidade diagnóstica das imagens de RMC são comprometidas por artefatos de suscetibilidade. Em particular, o RT, uma das seqüências mais importantes para a abordagem de cardiomiopatias, monstrou taxa diagnóstica reduzida, sugerindo a necessidade de novas estratégias na detecção de fibrose / lesão do miocárdio por RMC.