Introdução: Pacientes submetidos a cirurgias vasculares arteriais apresentam alto risco de complicações cardíacas e não cardíacas no perioperatório, portanto estratégias protetoras são essenciais neste cenário. Estudos recentes sugerem que o período do dia em que as cirurgias são realizadas pode influenciar na incidência de eventos desfavoráveis, porém ainda não existem evidências em pacientes submetidos a cirurgias vasculares.
Objetivo:O objetivo deste estudo é avaliar se o período do dia pode influenciar nos desfechos cardiovasculares e mortalidade nos pacientes submetidos a cirurgias vasculares arteriais não-cardíacas.
Métodos: Pacientes submetidos a cirurgias vasculares entre 2012 e 2018 foram prospectivamente incluídos na coorte. Os indivíduos foram categorizados em dois grupos: os que realizaram a cirurgia no período da manhã (7h00-12h00) e os que realizaram a cirurgia no período da tarde/noite (12h01-6h59). O desfecho primário foi a incidência de complicações cardíacas maiores (Major Adverse Cardiac Events – MACE: infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca aguda, arritmias e morte cardiovascular) e mortalidade total em 30 dias e 1 ano. O desfecho secundário foi a incidência de lesão miocárdica perioperatória (Perioperative Myocardial Injury – PMI), definida como elevação das concentrações de troponina T ultrassensível (hs-cTnT) ≥ 14ng/L.A análise multivariada por regressão proporcional de Cox (Hazard Ratio – HR e Intervalo de Confiança – IC 95%) foi utilizada para ajustar por variáveis de confusão, incluindo cirurgias de emergência e urgência.
Resultados: Dos 1267 pacientes, 1002 (79,1%) foram submetidos a cirurgias vasculares arteriais no período da manhã e 265 (20,9%) no período da tarde/noite. Após correção na análise multivariada, a incidência de MACE em 30 dias foi maior entre os pacientes que foram submetidos a cirurgias no período da tarde/noite (37,4% vs 20,4%; HR 1,43; IC 95% 1,10-1,85; p=0,008) .As taxas de mortalidade também foram mais elevadas no grupo da tarde/noite (21,5% vs 9,9%; HR 1,59; IC 95% 1,10-2,29; p=0,013). Após um ano de seguimento os piores desfechos persistiram em pacientes operados a tarde/noite: maior incidência de MACE (37,7% vs 21,2%; HR 1,37; IC 95% 1,06-1,78; p=0,017) e mortalidade (35,8% vs 17,6%; HR 1,72; IC 95% 1,31-2,27; p<0,001). Não houve diferença significativa na incidência de PMI comparando os grupos (p=0,8).
Conclusões: Neste grupo de pacientes vasculares, ser operado no período da tarde/noite esteve associado de forma independente com aumento de mortalidade e incidência de MACE.