Introdução: A plastia valvar mitral percutânea pelo MitraClip está bem estabelecida no tratamento da regurgitação mitral (RM) significativa em pacientes com risco cirúrgico elevado.
Descrição do caso: Mulher de 73 anos, portadora de RM acentuada, CF IV NYHA, realizou implante de MitraClip por insuficiência mitral secundária (miocardiopatia chagásica e tethering do folheto posterior <8mm). O resultado imediato do procedimento foi satisfatório, com redução da RM para moderada por colocação de 1 clipe ligando os escalopes A2 e P2. Paciente evoluiu com melhora clínica após procedimento (CF II NYHA). Após 3 meses, apresentou nova piora funcional (NYHA III) e foi encaminhada para realização de ecocardiograma transesofágico (ETE), que evidenciou: FEVE de 56% (Simpson - superestimada devido RM acentuada) com comprometimento difuso, diâmetro diastólico do VE de 63mm (dilatação acentuada), átrio esquerdo de 53 ml/m². Na valva mitral observou-se clipe conectado à extremidade do folheto posterior, entre os escalopes P2 e P3, e perda da ancoragem do folheto anterior. A análise do Doppler espectral e colorido mostrou RM acentuada, com dois jatos, sendo o maior entre A2 e P2, com vena contracta de 8mm, volume regurgitante de 51ml e fração regurgitante de 53%. Outros achados foram hipertensão pulmonar e comunicação interatrial devido à punção transeptal para o implante.
Comentários: O MitraClip tem demonstrado bons resultados para redução da RM, alívio dos sintomas e diminuição da taxa de hospitalização. Entretanto, uma das possíveis complicações é a desconexão de uma das extremidades do clipe com recidiva da RM em cerca de 4,8% dos casos, em geral até 30 dias após o procedimento. A presença de folhetos posteriores curtos, janela acústica inadequada para guiar a clipagem e calcificação das extremidades dos folhetos são fatores relacionados a desconexão. A prevenção dessa complicação é feita por uso de técnicas avançadas de imagem (ETE 3D) para orientar a clipagem, implante em apnéia e correta seleção dos pacientes, evitando folhetos posteriores curtos.
Comentários finais: O acompanhamento precoce após o implante de MitraClip é recomendado para detectar complicações agudas. O ETE é essencial para o diagnóstico relacionado ao mau posicionamento e desconexão de clipes, que pode ocorrer nos primeiros 30 dias após o procedimento.