Introdução: A subutilização da Varfarina, anticoagulante oral cumarínico mais utilizado, é resultado de suas limitações: meia vida longa, estreita janela terapêutica, interação com medicamentos, alimentos e fatores ambientais, necessidade de monitoração rigorosa do RNI (razão normalizada internacional), influência genética, variação da ação farmacológica com a idade e elevados riscos de sangramento e trombose nos primeiros 90 dias de tratamento. Em virtude destes fatos, justifica-se a realização de estudos para verificar se é possível realizar anticoagulação (AC) com segurança no Sistema Único de Saúde (SUS). Descreve-se os resultados obtidos de uma experiência exitosa de um Ambulatório de AC. Métodos: A população foi constituída por adultos acima de 18 anos, de ambos sexos, com indicação de AC por diversos motivos encaminhados por unidades de atenção básica, ambulatórios de especialidades e hospitais para seguimento num Ambulatório de AC. As variáveis estudadas foram: sexo, idade, valores de RNI mais recentes, tempo de utilização de Varfarina, motivo principal para AC e principais comorbidades. Resultados: Os dados referem-se aos atendimentos realizados no período de 23/10/17 a 23/9/19. Estiveram em seguimento neste período um total de 225 pacientes, sendo 97 ativos (43,1%), 41 que abandonaram o tratamento por diversos motivos (18,2%), 49 que receberam alta do tratamento (21,8%) e 38 óbitos (16,9%). Sessenta e seis pacientes (68,0%) eram homens e 31 mulheres (32,0%). A idade variou de 37 a 89 anos com média de 70,36 anos. Os valores de RNI dos últimos exames variaram de 0,93 a 7,29 com média de 2,54. Trinta e um pacientes (31,9%) estavam com RNI entre 2,5 a 3,5, ou seja, na faixa terapêutica recomendada para as diversas indicações de AC. Dez pacientes (10,3%) estavam com RNI acima de 4, sendo suspensa temporariamente a Varfarina devido risco de sangramentos. O tempo de utilização da Varfarina variou de 1 a 216 meses (18 anos) com média de 51,40 meses ou 4,25 anos. Os motivos principais que indicavam a necessidade de AC foram: fibrilação atrial (FA) isolada ou associada a outra indicação em 60 pacientes(61,8%) e FA isoladamente em 48 (49,5%), flutter atrial isolado ou associado a outra indicação em 10 (10,3%), prótese valvar metálica em 9 (9,3%), Insuficiência Cardíaca Congestiva em 9 (9,3%), Acidente Vascular Encefálico em 8 (8,2%) e Infarto Agudo do Miocárdio em 8 (8,2%).A principal comorbidade associada foi Hipertensão Arterial em 57 pacientes (58,8%). Conclusões: A FA foi o principal motivo de AC. É possível fazer AC de forma adequada no SUS.