Introdução: A determinação da capacidade funcional (CF) é essencial na avaliação clínica dos pacientes com insuficiência cardíaca (IC), sendo utilizada para tomada de decisão na indicação de otimização terapêutica e implante de dispositivos cardíacos.
Objetivo: O presente estudo tem como objetivo avaliar, de forma comparativa, métodos clínicos de avaliação da capacidade funcional rotineiramente utilizados na prática clínica e correlacionar tais resultados com os obtidos pelo teste cardiopulmonar (TCP), sendo este considerado o padrão ouro para tal finalidade.
Métodos: Nós investigamos prospectivamente 101 pacientes adultos portadores de IC com fração de ejeção reduzida seguidos na clínica de IC em um hospital terciário [idade = 56,0±12,3 anos; 59% homens; FEVE = 29,2 ± 9,2%; principais etiologias: isquêmica (28%), cardiomiopatia dilatada (30%), hipertensiva (20%) e chagásica (10%)]. Num mesmo dia, os pacientes foram avaliados quanto à classe funcional pelos métodos clínicos da NYHA e da SAS (Specific Activity Scale)e pela mensuração direta do VO2-pico em TCP. Diferentes pesquisadores aplicaram cada teste de forma separada e velada com relação aos demais resultados. Para análise da concordância geral dos métodos clínicos de avaliação da capacidade funcional (NYHA e SAS) com o teste cardiopulmonar, aplicamos o coeficiente de Kappa de Cohen. O valor de VO2-pico foi expresso em equivalentes metabólicos (METS), permitindo então delimitar as classes funcionais apresentadas pelos pacientes.
Resultados: No estudo de concordância entre os resultados da CF pela NYHA, avaliada em relação ao TCP, chegamos a um valor Kappa de 0,076 (erro padrão de 0,057), portanto, uma fraca concordância. No estudo de concordância entre os resultados da CF avaliada pela SAS em relação ao TCP, chegamos a um valor kappa de 0,055 (erro padrão de 0,068), mostrando também fraca concordância. O gráfico 1 evidencia que os valores individuais de VO2-pico nos grupos de pacientes segregados conforme a classe funcional definida por cada um dos métodos clínicos evidenciou grande dispersão de valores, com extensa superposição entre os diferentes grupos, sem diferenças significativas do valor médio do VO2-pico entre os grupos (p>0,05).
Conclusão: Os resultados deste estudo mostram que os métodos clínicos de avaliação da capacidade funcional apresentaram fraca concordância com a capacidade funcional objetivamente medida no teste cardiopulmonar. Esses dados reforçam a importância do emprego do TCP para mais acurada determinação da capacidade funcional em pacientes com IC.