INTRODUÇÃO: A Apnéia Obstrutiva do Sono (AOS) é a anormalidade respiratória clinicamente significativa mais comum durante o sono e é altamente prevalente em pacientes portadores de Fibrilação Atrial (FA), podendo estimular a arritmogênese e dificultar o tratamento clínico. Sua prevalência é de 3% a 49% na população em geral, atingindo 21% a 74% da população portadora de FA. A recorrência de AOS a longo prazo pode estar associada a remodelação estrutural e alterações de condução elétrica no átrio, o que a torna uma facilitadora das arritmias atriais, embora haja mecanismos multifatoriais.
RELATO DE CASO: Paciente do sexo masculino, 58 anos, procura atendimento ambulatorial para avaliação para atividade física. Previamente hipertenso, diabético, dislipidêmico, obeso grau I e com episódios esporádicos de palpitações. Holter evidencia instabilidade elétrica atrial de alta incidência, Flutter e Fibrilação Atrial não sustentada e sustentada. Iniciados Rivaroxabana e Metoprolol. Devido à forte relação entre AOS, FA Paroxística e obesidade, solicitada polissonografia que evidenciou um índice de apnéia e hipopnéia (IAH) = 63,19/h. Esse IAH foi reduzindo para 6,4/h com uso ventilação não invasiva com pressão positiva contínua das vias aéreas (CPAP). Devido à persistência da FA, paciente foi encaminhado para Ablação, sendo submetido a isolamento elétrico das veias pulmonares com sucesso e bloqueio istmal direito bidirecional, sem indução de arritmias.
DISCUSSÃO: O diagnóstico e tratamento da AOS com FA necessita de esforços conjuntos de eletrofisiologistas, cardiologistas e especialistas do sono, uma vez que, a despeito da elevada prevalência de AOS em pacientes com FA, na prática clínica, o subdiagnóstico e o consequente subtratamento são frequentes. Não podemos esquecer que estudos mostraram que o tratamento da AOS por pressão positiva pode ajudar a manter o ritmo sinusal após cardioversão. Vale lembrar que A AOS está fortemente associada à obesidade e há uma relação
direta entre IMC e o IAH. Além disso, evidências apontam que até 60% dos pacientes portadores de AOS apresentam algum tipo de arritmia cardíaca. Portanto, é de suma importância a investigação da respectiva associação, uma vez que quando diagnosticado, a intervenção terapêutica com pressão positiva em vias aéreas (CPAP), além de reduzir o IAH, melhorando a qualidade de vida do paciente, atua colaborando para manutenção do ritmo sinusal após ablação por cateter.