Introdução: Pacientes com doença arterial coronária (DAC) precoce apresentam taxas reduzidas de transferência de colesterol para HDL-colesterol, independente dos seus níveis séricos. Os efeitos do tratamento com estatina e restrição calórica nas propriedades antiaterogênicas da HDL, que são importantes na prevenção da DAC, são pouco descritos.Objetivo: Avaliar o efeito da restrição calórica associada ou não ao uso de estatina na transferência de colesterol para HDL.
Métodos: Estudo randomizado com 26 mulheres, idade ≤55 anos e DAC diagnosticada angiograficamente. As pacientes foram alocadas em dois grupos: grupo de restrição calórica (RC) (n = 13), dieta com redução de 30% da ingestão calórica diária habitual, e grupo RC mais atorvastatina (RC + A) (n = 13), adição de 80 mg de atorvastatina diariamente à dieta CR. Amostras de sangue foram coletadas antes e 60 dias após o início das intervenções para análise do perfil lipídico e para avaliar a funcionalidade antiaterogênica da HDL pela transferência de colesterol para o HDL realizado in vitro, utilizando uma nanoemulsão artificial como doadora dos lípides.
Resultados: Redução do índice de massa corporal em ambos os grupos (p <0,01). No grupo RC, observou-se uma tendência na redução do colesterol total de 229 ± 55 para 207 ± 59 mg / dL (p = 0,07), LDL-C de 143 ± 40 para 129 ± 49 mg / dL (p = 0,07) e HDL-C 56 ± 13 a 53 ± 14 mg / dL (p = 0,07). A Apo B e a apo A-I reduziram, respectivamente, de 1,20 ± 0,35 a 1,05 ± 0,36 g / L (p = 0,01) e 1,59 ± 0,32 a 1,43 ± 0,28 g / L (p = 0,01). No grupo CR + A, observamos redução do colesterol total de 253 ± 97 para 169 ± 47 mg / dL (p <0,01), LDL-C de 147 ± 57 para 97 ± 39 mg / dL (p <0,01), e apo B de 1,26 ± 0,39 a 0,85 ± 0,22 g / L (p <0,01). HDL-C e apo A-I não foram alterados. No grupo RC, as transferências de colesterol não esterificado e esterificado para HDL não foram alteradas. No grupo CR + A, a transferência de colesterol não esterificado para HDL aumentou quase 10%, de 3,4 ± 0,6% para 3,7 ± 0,7% (p = 0,03), mas não houve nenhuma alteração na transferência de colesterol esterificado.
Conclusão: O tratamento com CR e atorvastatina não foi apenas benéfico por reduzir os níveis de LDL-C, mas também pelo aumento da transferência de colesterol não esterificado para a fração HDL, um mecanismo antiaterogênico independente, que pode ser importante no tratamento de mulheres com DAC precoce.