Introdução: A despeito de piores desfechos cardiovasculares, incluindo maior mortalidade, reportados em mulheres com infarto agudo do miocárdio, é incerto se essas diferenças podem ser explicadas por um perfil de risco discordante entre gêneros.
Objetivo: Comparar dados clínicos e de métrica de atendimento entre mulheres e homens com diagnóstico de IAM com supradesnivelamento de segmento ST (IAMCSST).
Métodos: Foram analisados 2723 pacientes consecutivos, dos quais 29,8% (811) eram mulheres, de uma rede municipal para tratamento de IAMCSST, atendidos de março-2010 a dezembro-2019 em hospitais primários e transferidos ao centro terciário para realização sistemática de cateterismo cardíaco (estratégia fármaco-invasiva). Variáveis categóricas foram comparadas pelo teste qui-quadrado e as numéricas expressas em mediana e intervalo interquartil e comparadas pelo teste Mann-Whitney. Um modelo de regressão logística foi elaborado para determinar se sexo feminino foi preditor independente de mortalidade.
Resultados: Em comparação aos homens, as mulheres apresentaram maior idade (60 [53-69] x 56 [49-63] anos; p<0,01), maior frequência de hipertensão arterial (68,9% x 56,5%; p<0,01), diabetes (36,6% x 28,3%; p<0,01), hipotireoidismo (12,0% x 3,3%; p<0,01), clearance de creatinina < 60 mL/min (24,7% x 15,4%; p<0,01) e maior LDL-colesterol basal (128 [107-160] x 124 [100-154] mg/dL; p=0,03). Foram mais frequentes em homens tabagismo (65,2% x 58,2%; p<0,01) e etilismo (16,1% x 3,1%; p<0,01). As mulheres apresentaram tempos mais prolongados de procura ao atendimento – tempo dor-hospital (120 [60-240] x 115 [60-210] minutos; p=0,02) e um maior tempo dor-agulha (69 [42-120] x 72 [49-120] minutos; p=0,03). Não houve diferença entre gêneros em relação à necessidade de angioplastia de resgate, tempo entre fibrinolítico ao cateterismo e dias de internação. As mulheres apresentaram maior mortalidade hospitalar (8,0% x 4,8%; p<0,01). Porém, após ajuste no modelo de regressão multivariada, o sexo feminino não constituiu preditor independente de óbito (odds ratio 1,17 IC 95% 0,69-1,80).
Conclusão: Após ajuste para variáveis de risco, sexo feminino não foi relacionado a maior mortalidade hospitalar em pacientes com IAMCSST submetidos à estratégia fármaco-invasiva. Porém, mulheres apresentaram um perfil de risco cardiovascular mais elevado e com piores métricas de atendimento, incluindo maior atraso para tomada de terapia de reperfusão.