A terapia medicamentosa da insuficiência cardíaca preconizada pela literatura científica nem sempre é aplicável, uma vez que na prática clínica os pacientes podem diferir da população estudada nos ensaios clínicos.
Desta forma, este trabalho tem por objetivo avaliar a correspondência das prescrições de alta com as diretrizes vigentes para a terapia medicamentosa da insuficiência cardíaca.
A coleta dos dados foi realizada após o estudo ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa, e os indivíduos assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto foi aprovado pela Plataforma Brasil, sob número CAAE 22164819.1.0000.5461.
As prescrições foram analisadas pelo pesquisador, a fim de avaliar a compatibilidade da terapia prescrita com a preconizada em diretrizes internacionais para o tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
Os pacientes possuem média de idade de 74 anos e são predominantemente do sexo masculino. A maioria dos pacientes foi classificada nas classes funcionais II e III, de acordo com a classificação da New York Heart Association. Doenças coronarianas isquêmicas foram a causa da disfunção cardíaca na maior parte dos pacientes do estudo. O diagnóstico de insuficiência cardíaca já era conhecido pela maior parte dos pacientes há pelo menos um ano.
Mais de 60% dos pacientes receberam alta hospitalar com um diurético de alça na prescrição médica. Antagonistas de aldosterona foram prescritos para aproximadamente 45% dos pacientes. A combinação de um inibidor do sistema renina-angiotensina e um β-bloqueador foi prescrita para 32% dos pacientes. A combinação de um inibidor do sistema renina-angiotensina, um β-bloqueador e um antagonista de aldosterona foi prescrita para 27% dos pacientes.
Em comparação com os pacientes que receberam o diagnóstico no mesmo ano da coleta de dados, pacientes diagnosticados há pelo menos um ano receberam prescrições de diuréticos de alça com maior frequência (60% vs. 50%, respectivamente), quantidades equiparáveis de prescrições de β-bloqueadores (68% vs. 67%), menor percentual de prescrições de inibidores do sistema renina-angiotensina e de antagonistas de aldosterona (43% vs. 50%).
Os dados obtidos neste trabalho demonstram um baixo uso das doses alvo preconizadas nas diretrizes. A compreensão clínica sobre a tolerância dos pacientes ao uso da terapia medicamentosa com as doses alvo descritas na literatura tem grande fator subjetivo.